fonte: Julio Conte
O CORAÇÃO DO TEATRO
As peças de teatro são como as pessoas. Tem um mistério que precisa ser desvendado. Este processo , assim com a construção de uma intimidade, demanda um grande esforço emocional. O longo caminho em busca do coração da obra de arte. Assim como as pessoas que podem ser vistas como obras de artes, algumas não temos vontade de conhecer. Outras conhecemos mas não privamos. Outras passam despercebidas. E assim como as pessoas, as obras de arte tem vida própria. Ao longo da minha carreira artística me defrontei várias vezes com esta percepção que as peças de teatro tem vida própria e elas mesmas determinam sua história. Peças que parecem que terão vida longa, se encerram em temporadas vazias. Outras vindas do nada seguem sua vida dando impressão que vão durar para sempre. Outras ainda se encerram como vidas roubadas por acidentes e o acaso. Às vezes os próprios artistas, e me incluo aqui, não tem a real dimensão de uma peça de teatro. Por preguiça, omissão ou descuido, ou pelo momento de contato não encontrar as valências abertas e o contato não é feito. Não é sempre, mas acontece. No trabalho de mergulho no pensamento da uma peça nos defrontamos com um esforço de superação do nosso narcisismo. Queremos espelhos, mas o teatro é diversidade. Há que se despojar de algo para encontrar o outro. Há que se mergulhar no pensamento alheio para ali, nesta outra língua do outro, encontrar a diversidade e a diversão. Teatro neste sentido é sempre divertido. Mesmo a peça mais densa ou obscura. A Milímetros de Mercúrio é uma peça obscura e densa. E bem humorada e para mim muito bonita. Mas ali tem muito de mim. E do grupo. E do social. E da vida de todos nós. Claro que para ver isso tem que entrar num universo particular. Um mundo que fala em uma linguagem que procura significados. Tem gente que desiste. Tem gente que vai até o pensamento da peça e, depois desde mergulho, encontra o coração da arte, do artista, do grupo e da sociedade. E o coração da arte não fala com a razão. Pois todos sabem que a razão é escrava da emoção. O coração da arte nos toca ao ser tocado. E fica como propriedade emocional. A gente leva de alguma forma para a vida toda.
Hoje último dia de A MILÍMETROS DE MERCÚRIO no Teatro Bruno Kiefer da CASA DE CULTURA MARIO QUINTANA, 21 horas.
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